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Eleições de 1930: a primeira fake news 4dp4b
Brasil vivia uma grave crise econômica, política e social, comparável a uma "a de pressão" prestes a explodir
Por Oswaldo Nogueira
27 de outubro de 2024, às 08h00 • Última atualização em 27 de outubro de 2024, às 08h43
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No início dos anos 1900, a Presidência da República no Brasil era alternada entre paulistas e mineiros, no que ficou conhecido como a “Política do Café com Leite”. Em 1930, o indicado para a presidência deveria ser o governador de Minas Gerais, Antônio Carlos de Andrada. No entanto, o então presidente Washington Luís quebrou a tradição e indicou o paulista Júlio Prestes, governador de São Paulo, para sucedê-lo.
A decisão revoltou os mineiros, que, em represália, apoiaram a candidatura de Getúlio Vargas, governador do Rio Grande do Sul, à presidência, formando a “Aliança Liberal” – com adesão de militares e governadores descontentes com Washington Luís. Vargas escolheu como seu vice o governador da Paraíba, João Pessoa, uma figura de grande prestígio no Nordeste e sobrinho do ex-presidente Epitácio Pessoa (de 1919 a 1922), portanto o candidato ideal.
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Na época, o colégio eleitoral era : mulheres não tinham direito ao voto, e a maioria da população era analfabeta, o que também a excluía do processo eleitoral. O cenário político era dominado pelos grandes proprietários de terra, conhecidos como coronéis, que, sem ligação militar, influenciavam as eleições por meio de fraudes e manipulações, favorecendo candidatos de seus interesses.
Com o apoio da máquina governamental, Júlio Prestes foi eleito. No entanto, os aliados de Vargas não aceitaram o resultado, alegando fraude eleitoral e promovendo protestos em várias regiões do País. Durante esse período, João Pessoa foi assassinado em Pernambuco por razões ionais, sem qualquer ligação com a campanha eleitoral. Ainda assim, os apoiadores da Aliança Liberal disseminaram a informação de que o crime teria motivação política.
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Essa “fake news” foi usada como pretexto para a Revolução de 1930, que impediu a posse de Júlio Prestes, resultando na deposição de Washington Luís. O presidente deposto foi exilado para a Europa, retornando ao Brasil apenas em 1947.
O Brasil vivia uma grave crise econômica, política e social, comparável a uma “a de pressão” prestes a explodir. A morte de João Pessoa tornou-se o estopim para a revolução, que levou Getúlio Vargas ao poder. Supostamente até a convocação de novas eleições, Vargas se manteve no cargo, encerrando a chamada República Velha. Entretanto, essas eleições jamais ocorreram, e Vargas permaneceu como ditador por 15 anos. Como homenagem, a capital da Paraíba foi renomeada João Pessoa.
O assassinato de João Pessoa foi mais útil à causa de Vargas na morte do que em vida. Se o crime não tivesse ocorrido, a história política do Brasil poderia ter seguido um caminho completamente diferente. A fake news, afinal, prevaleceu.
Empresário e ex-vereador de Americana, escreve sobre temas do cotidiano com o objetivo de ser uma fonte de provocação e reflexão para os leitores; coluna quinzenal