O Caixeiro Viajante 1u225s
O desconhecido Oiapoque 2l3j1b
É nesse município que se encontra o ponto mais ao norte do Brasil
Por Oswaldo Nogueira
27 de abril de 2025, às 09h03
Link da matéria: /colunas-e-blogs/o-desconhecido-oiapoque/
Oiapoque está localizado a 430 km de Macapá, capital do Amapá. A distância pode parecer curta, mas o trajeto é desafiador: com longos trechos de estrada de terra, a viagem leva cerca de oito horas — isso se tudo correr bem. É nesse município que se encontra o ponto mais ao norte do Brasil.
Pouca gente sabe, mas a maior fronteira terrestre da França não é com a Bélgica nem com a Alemanha — é com o Brasil, no Oiapoque. De um lado, o município brasileiro tem cerca de 25 mil habitantes. Do outro, está a Guiana sa, território ultramarino com mais de 300 mil moradores, onde se aplicam as leis sas, o salário mínimo é de 1,7 mil euros e os cidadãos têm aporte europeu.
O que separa os dois países é o Rio Oiapoque. Bastam cinco minutos de travessia de canoa para se estar, tecnicamente, em território francês.
Siga o LIBERAL no Instagram e fique por dentro do noticiário de Americana e região!
A Guiana sa desempenha um papel estratégico no cenário global. É lá que está localizada a base espacial de Kourou, uma das mais importantes do mundo, que movimenta bilhões de euros. A localização próxima ao Equador torna os lançamentos mais eficientes — e, em caso de falha, mais seguro que o foguete caia na floresta amazônica do que em áreas densamente povoadas da Europa. Antes disso, a Guiana foi usada como colônia penal sa, destino de milhares de prisioneiros.
Hoje, a realidade é bem diferente. Muitos ses atravessam o rio para fazer compras no Brasil, onde os preços são significativamente mais baixos. Por isso, o comércio local costuma aceitar euros, com os valores ajustados ao câmbio. Do lado oposto, brasileiros cruzam para trabalhar em plantações de cacau e na extração de bauxita, atraídos por salários que chegam a ser sete vezes maiores do que no Brasil.
Em 1895, a região foi palco de um conflito entre os dois países. A França alegava que a fronteira ficava mais ao sul, e chegou a invadir o Amapá. O ime durou até 1900, quando a arbitragem da corte suíça deu ganho de causa ao Brasil, mantendo o Rio Oiapoque como divisa oficial.
Em 2008, foi inaugurada uma ponte moderna ligando os dois países. Na prática, porém, ela é pouco usada pelos brasileiros. Muitos ainda preferem cruzar de canoa, pagando cerca de 2 euros pela travessia — sem visto, burocracia ou seguro obrigatório. Para cruzar pela ponte, a França exige um visto de 60 euros, além de um seguro veicular de 95 euros.
Faça parte do Club Class, um clube de vantagens exclusivo para os s. Confira nossos parceiros!
O fluxo diário de pessoas entre os dois lados do rio é vital para a economia de Oiapoque. O comércio local depende dessa movimentação constante. Por isso, manter boas relações diplomáticas com a França é essencial. Qualquer alteração no atual cenário poderia impactar diretamente a vida da população local.
Mas por que tão poucos brasileiros conhecem Oiapoque? A resposta está na dificuldade de o. As estradas são precárias, os voos escassos e o turismo ainda engatinha. Por outro lado, esse isolamento ajuda a preservar a natureza da região: florestas praticamente intocadas e rios de águas limpas compõem a paisagem de um dos cantos mais remotos — e fascinantes — do Brasil.
Empresário e ex-vereador de Americana, escreve sobre temas do cotidiano com o objetivo de ser uma fonte de provocação e reflexão para os leitores; coluna quinzenal